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Emilio Di Biasi por
Erika Riedel

Publicado em: 12/07/2012 |

É sempre com emoção e prazer que falo, penso e/ou escrevo sobre Emilio Di Biasi, o artista que hoje chamo de amigo. Mas, ao começar esse texto, pensei no que ainda não havia dito sobre o Emilio ou para o Emilio e me lembrei da carta prefácio com a qual abri sua biografia, “O Tempo e a Vida de um Aprendiz”, lançada em 2010, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Fui reler e percebi que seria tolice tentar “reinventar a roda”. O que tenho a dizer sobre esse homem admirável está dito ali, e mesmo sob o risco de ser tachada de preguiçosa, ouso reproduzir novamente o que escrevi à época. 

Em tempo: Emilio, provavelmente, não lerá esse texto e talvez não se lembre mais dele, nem do momento em que foi escrito. Talvez pouco se lembre também do quanto sua trajetória foi relevante para a cena artística nacional. Mas nós, que amamos o palco como ele, não podemos esquecer.


Da Capo

Foi numa quinta-feira cinza e chuvosa que fui pela primeira vez à casa de Emilio. Um amplo e ao mesmo tempo acolhedor apartamento em Santana. Munida de gravador, bloquinho e toda a curiosidade típica de uma jornalista que pressente uma bela matéria.

 

Nossa primeira conversa começou muito tímida. Falamos um pouco de tudo, da sua carreira, da sua vida, mas eu sabia que havia muito mais. E eu estava certa. Ao todo foram dezenas de encontros, sempre regados a muito café, lanchinho e um ótimo papo. Também foram muitos os adiamentos, por conta do meu trabalho no jornal e outros acidentes de percurso. Emilio nunca me cobrou a demora. Este livro deveria ter ficado pronto muito tempo atrás.

 

Depois de abrir sua casa, ele me abriu seu coração. Eu estava feliz por conhecer em detalhes a trajetória de um dos maiores nomes do cenário artístico nacional. Ainda assim, Emilio resistia um pouco à ideia do livro. Achava, imaginem, que sua vida não valia o registro. Convencê-lo do contrário, considero meu maior mérito.

 

Essa convivência, além de prazerosa, foi para mim um aprendizado. Conversar durante todo esse tempo com Emilio me abriu perspectivas e pontos de vista, me fez compreender coisas e fatos surpreendentes. Foi praticamente uma pós-graduação nas artes cênicas e no universo artístico como um todo, porque Emilio vai muito além. Ele se interessa e tem muita propriedade para discutir com fluência também sobre cinema, música e, claro, televisão.

 

Durante o período em que duraram nossas entrevistas, aconteceram fatos curiosos que eu poderia chamar de coincidências, se acreditasse que elas existem. Bastava o Emilio mencionar o nome de alguém que há muito não via e a pessoa simplesmente reaparecia, como num passe de mágica. Não uma, nem duas, mas muitas vezes.

 

Assim como aconteceu com o amigo uruguaio, que conheceu em Stratford, e reencontrou quase 40 anos depois. Acho que nem o universo e seus mistérios queriam ficar fora deste registro.

 

Outro desses acasos do destino diz respeito ao início e ao término deste livro. Foi o relato de uma ópera a primeira das lembranças que Emilio me revelou quando começamos as entrevistas e é com ele que eu começo a sua biografia. E é com o relato de outra ópera que vou encerrar esta história embora a história do Emilio esteja muito longe de acabar. Enquanto escrevo esta abertura, ele está em Brasília, filmando uma participação no longa Insolação, dirigido por Felipe Hirsch. E, de quebra, se prepara para dirigir mais uma megaprodução, mas essa é uma outra história. Fica para uma próxima vez. Emilio é uma pessoa generosa, divertida, sensível, gentil, alto-astral. Impossível não se apaixonar por ele. Um homem que ama seu ofício e que transborda esse amor para a sua vida e para os que o rodeiam.

 

Claro que nos tornaríamos amigos, companheiros, parceiros. Assim, expandimos nossos encontros para as salas de espetáculos, que ambos adoramos, e para muitos cafés na Praça Roosevelt, outra paixão em comum.

 

A cada encontro descobria mais e mais facetas do homem e do artista. Conforme a peça ou o fato narrado, era possível ver o brilho nos seus olhos, um brilho que só existe nos olhos de quem ama. E essas cenas foram inesquecíveis. Assim como aqueles momentos em que a sua voz ficava embargada ao relembrar algum episódio doloroso, como os anos da repressão.

 

Quando me contava algo de que gostava muito, recorria à expressão foi maravilhoso. O adjetivo maravilhoso, sua variável feminina e seu substantivo, foi utilizado por ele 61 vezes* nesta biografia. Isso mesmo, eu contei. Praticamente uma vez para cada ano de existência. E, afinal, uma pessoa que consegue achar tantas coisas maravilhosas num mundo muitas vezes cruel, definitivamente, só pode ser um sujeito especial. Cheguei a brincar com ele que ia batizar este livro de Emilio, o Maravilhoso. Ele sorria sem graça. Nunca levou a sério o que imaginava ser uma piada. Talvez tenha me achado meio maluca. Mas quando a gente gosta demais de alguém acaba parecendo maluca mesmo.

 

Também descobri que essa admiração que eu sentia por ele não era, nem poderia ser, um privilégio único. Talvez nem ele mesmo se dê conta do quão querido é por outros artistas e pelo seu público. Mas, se realmente lhe resta essa dúvida, quero deixar meu testemunho de que a simples menção de seu nome evoca nas pessoas sempre as melhores lembranças.

 

E, para terminar, espero, sinceramente, que esta breve introdução transmita o prazer e a emoção que senti ao escrever esta biografia. Então, é isso, só não queria, nem poderia, terminar esta história de outra maneira que não fosse agradecendo.

 

Muito obrigada! Foi maravilhoso, Emilio!

 

* Na conta não estão inclusas as vezes em que eu citei o adjetivo nesta abertura.