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Dou-te o Nome de Ana

Publicado em: 11/11/2011 |

Guerra do Paraguai, 1864. Um regimento de violentados da pátria, bando de guerreiros cegos, bastardos de uma nação e frutos do estupro da pátria com a terra, são obrigados a se voluntariar por uma guerra que não é deles e lutar por um chão do qual nunca serão donos.

 

O cheiro de terra e o ar quente logo na entrada do espaço cênico da abertura do processo de trabalho do Grupo 1, com direção de Durval Mantovaninni, Letícia Bassit e Marcio Baptista, transportava o público para uma época distante e, ao mesmo tempo, presente.

 

Neste contexto, o Grupo 1,  último dos oito núcleos do Experimento do Módulo Amarelo a apresentar sua cena, inspirada no livro “Viva o Povo Brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro, e baseada nos conceitos do teatro narrativo, levou o público a uma quebra de espaço-tempo, com a dramaturgia assinada por Denis Moura, Ivete Gomes e Lissandra Laila.

 

O cenário concebido por Bruno Manso, Hugo Cabral e V. Sayuri e o mapa de luz, idealizado por Aline Paucará, Felipe Boquimpani e Flavio Portellaremetia, remetiam aos primórdios e o chão de terra batida utilizada no espaço cênico, se destacava, alternadamente, com uma iluminação difusa como uma floresta arborizada e rajadas fortes de luz que remetiam a relâmpagos e, também, a uma terra de sol escaldante e sem sombras.

 

Sob o olhar atento dos técnicos de palco Benilson Alves e Gabriela Fiorentino, no centro da cena, Alline Sant’Ana, Ana C. Marinho, Erik Moura, Gustavo Braunstein, Nádia Verdun e Natália Baviera se atracavam na terra em busca de tesouros e descobertas, além de procurarem um significado para sua vida e sua existência.

 

De um lado, o cenário da guerra de 1864, de outro, um texto atual, que abordava a miscigenação e os problemas da sociedade atual: o mendigo queimado na rua, os abusos sexuais no metrô, a homofobia, o racismo e a xenofobia.

 

Essa dicotomia também se revelava na sonoplastia da cena que, concebida por André Teles e Doutor Ailton se alternava em instrumentos percussivos, violão e ruídos digitais e bases sonoras feitas em um Ipod.

 

Adriana Vaz Ramos, artista convidada do curso de Cenografia e Figurino e de Técnicas de Palco revelou que gostou muito da proposta. “A ideia de se utilizar de situações atuais e encenadas em terra distante e criar esse deslocamento e caracterização visível do urbano com a antiguidade ficou ótima. Gostei muito da luz e da sonoplastia eletrônica”, revela.

 

A aprendiz de Dramaturgia do Módulo Vermelho Júlia Mendes também assistiu a abertura do processo de trabalho do Grupo e observou que os elementos do teatro épico estavam muito presentes na cena. “O épico foi bem expresso no coro que, entretanto, precisava de mais afinação e na transposição narrador/personagem. A dramaturgia também estava bacana,  dentre todos que assisti, essa foi a que eu mais gostei”, conclui.

 

Texto: Renata Forato