SP Escola de Teatro

Centenário Paulo Freire: Carta a Paulo Freire, por Ingrid Dormien Koudela

Neste domingo, 19, o patrono da educação brasileira, Paulo Freire, faria 100 anos. O trabalho e legado do pensador transformou o ensino no país e norteou milhares de professores aqui e no resto do mundo. A  pedagogia da autonomia, proposta por ele, é um dos alicerces da SP Escola de Teatro, segundo o qual “quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender”, em sincronia com a visão dialética de suas propostas educativas.

Iniciando a celebração deste importante centenário, a SP Escola de Teatro publica uma carta da escritora, tradutora e professora livre-docente de didática e prática de ensino em artes cênicas da ECA/USP Ingrid Dormien Koudela.

Ela é considerada uma das figuras centrais no estudo da didática do teatro, traduziu toda a obra de Viola Spolin para o português e ganhou espaço como a principal desenvolvedora do sistema de jogos teatrais e do pensamento dessa autora e diretora especialista em teatro improvisacional. Também é especialista nas peças didáticas de Bertolt Brecht e introduziu, na década de 80, o sistema de jogos teatrais no Brasil. Além de todo esse ilustre currículo, foi também uma aluna aplicada do educador.

“A importância de Paulo Freire é inegável. Tanto no Brasil como a nível internacional nosso filósofo traz ensinamentos que além de serem marcos na Pedagogia e Didática são urgentes em nossos dias. A comemoração do centenário está propiciando uma ampla divulgação de sua obra entre leigos e especialistas. Viva Paulo Freire!”, ressalta Ingrid.

Confira a seguir a carta na íntegra:

Querido Paulo Freire,

Nós, que aqui estamos, somos cada vez mais isolados, fragmentados, solitários. O exercício do aqui/agora, na parceria de jogo, é virtual. Acertar o cesto com a bola ou marcar gol é no Game! Assistimos pela TV, ouvimos pelo Rádio, o Podcast, no Smartfone ou Desktop temos Podcast,Youtube, E-mail.

Em cada encontro na Internet, experimentamos novos desenlaces. E vamos construindo memórias coletivas nas gravações das Lives.

Já estamos na ¨Escola Alegre¨ que o Senhor anunciava, onde a há uma relação dialógica entre docentes e discentes.
Acontece aqui a Lustige Arbeit (Trabalho Alegre) – como Bertolt Brecht gostava de denominar o Theaterspiel (Jogo Teatral).

Essa prática de ensino não seria urgente na escola brasileira hoje.

Não, querido Paulo Freire, não! Quanta falta o Senhor nos faz! Entidades burro-cráticas e desgovernos proíbem escolas alegres.

Aonde ficou a gostosura da arte?

Apesar da pandemia, na qual quase morremos todos, por descuido com a Terra, novos espaços de jogo e de teatro foram abertos. São ilhas de desordem no mar de nossa ordem social!

Espero escrever em breve sobre o fim dos tempos obscuros que vivemos.
Até lá com um grande abraço

Ingrid Dormien Koudela

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