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Catadores

Publicado em: 07/11/2014 |

* por Ivam Cabral, especial para o portal da SP Escola de Teatro

 

Começamos hoje, na SP Escola de Teatro, um projeto que é de extrema importância para mim e, espero, que para todos que moram e/ou frequentam a região da Praça Roosevelt.

 

Antes de falar, é preciso observar que se trata, a princípio, de uma ação interna e voluntária da Escola, planejada e executada por nossos colaboradores, sem qualquer intervenção externa. E que ela foi pensada e colocada em prática silenciosamente, sem alarde, pois acreditamos que, antes de mais nada, é nosso dever zelar por este espaço. Hoje abro, então, uma pequena exceção para compartilhar meus pensamentos e sentimentos a respeito dessa ideia.

 

O nome do projeto é Catadores, e ele pretende exatamente o que seu nome diz. Duas vezes por semana, a partir de agora, seremos catadores, catando as dores da Praça Roosevelt: o lixo, aquele que muitos fingem não ver, mas está ali, sempre. Depois daquele agitado fim de semana de eventos, no final daquele delicioso dia de sol e daquela badalada noite de festa. As pessoas se vão, seus restos ficam.

 

Decidimos, nós mesmos, reservar um tempo de nossa semana para fazer isso. Avaliamos que isto era o melhor a se fazer, em vez de, sempre, apenas responsabilizar o outro e seguir vendo as coisas erradas sem sujar as mãos para tentar consertá-las.

 

E, podem ter certeza, está sendo um exercício de pertencimento e valorização do espaço público de grande valia. Fizemos a nós mesmos a seguinte pergunta: de quem é a Praça Roosevelt? Do governo, da prefeitura, da cidade? Ela é nossa! Sim, dos artistas, dos skatistas, de toda a gente que passa por ali e sente que tem um pouquinho de casa naquele espaço.

 

E como é que você trata aquilo que é seu? Quem você responsabiliza por suas ausências? Fazer essa inversão de posições é um ato de resistência diante de nosso comodismo, um pequeno grande passo para fora de nossa zona de conforto.

 

Também é fundamental destacar que, como dito acima, trata-se de uma ação voluntária. Logo, os colaboradores não têm absolutamente nenhuma obrigação de participar dela. Entretanto, o que vimos, desde o início de nossas reuniões, foi uma mobilização geral e um envolvimento profundo com a causa. Como costuma acontecer em nossas reuniões, mil ideias incríveis logo foram despontando e apontando para caminhos promissores. Fôlego não vai faltar.

 

Como já contei antes por aqui, tive a oportunidade de ver a Praça em diferentes níveis de degradação, das mais inóspitas condições até o que ela é hoje: um local que atrai pessoas de todos os cantos, de jovens da periferia da cidade até turistas da Suécia. Não é justo – e muito menos racional – abandonarmos esse território agora, depois de tanta luta em prol de sua revitalização.

 

Esse é nosso compromisso. Juntos somos fortes e podemos, sim, transformar a Praça num lugar ainda melhor!