Para falar de Bel Kowarick, tenho que ir além do ofício de atriz por duas razões importantes.
A primeira: a ligação dela com seu ofício transcende o palco. Além de atriz premiada e reconhecida por seus pares, Bel é, sobretudo, uma mulher de teatro: produtora, militante ativa das causas do teatro, assistente de diretores importantes e alguém que estuda e atua na direção da ampliação e aperfeiçoamento da arte dramática.
Iniciou sua trajetória no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), de Antunes Filho, e nunca mais parou de estudar. Na década de 1990, voltou a Paris – cidade onde nasceu – para mergulhar na arte do bufão com Philippe Gaulier, e passou uma temporada em Londres com os mestres do humor e do teatro físico, o grupo “The Right Size”.
No Brasil, participou ativamente de grupos que expandiram a linguagem da arte dramática, entre eles: O Boi Voador (“Observatório”, baseado na obra de Julio Cortázar); a Companhia Teatro em Quadrinhos (“O Cobrador”, baseado na obra de Rubem Fonseca); e, mais recentemente, do Núcleo Argonautas (“Terra Sem Lei” e “O Que Morreu Mas Não Deitou?”).
Já passou pela batuta de diretores tão variados quanto importantes da cena nacional. Entre outros: Eugênia Thereza, Beth Lopes, José Possi Neto, Francisco Medeiros, Regina Galdino, Caetano Vilela e Mika Lins. Com esta última, protagonizou, recentemente, “Dueto Para Um”, de Tom Kempinski, cuja performance mereceu uma indicação ao Prêmio Shell e a conquista do APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) como melhor atriz de 2010.
Bel Kowarick é uma atriz precisa e de técnica apurada. Talvez, por isso mesmo, às vezes, se permite a voos arriscados, sem rede de proteção, como uma bailarina que desrespeita a lei da gravidade pelas bordas dos abismos, onde acontecem as faíscas mais preciosas do jogo dramático.
Este é o lugar onde adoro vê-la: sobre o palco. Foi lá que a vi pela primeira vez, me encantei e me apaixonei. Pela atriz e pela mulher.
E aqui está a segunda razão pela qual não posso me restringir ao ofício de Bel como atriz. Bel é meu amor, com ela tenho dois filhos lindos e 15 anos de estrada comum. Uma mulher e atriz rara.
Veja o verbete de Marcelo Tas e Bel Kowarick na Teatropédia.
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