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Antônio Araújo por Roberto Audio

Publicado em: 29/03/2012 |

– Isto deveria ser simples… pensei antes de começar a escrever. – Que bobagem, não é pra ser tão sério assim!… continuei pensando. – E depois, ser simples é muito difícil! Pausa. Longa pausa seguida de lembranças… então que seja como vier, como o coração mandar.

 

Éramos muito jovens quando nos conhecemos melhor. Já havia visto o Tó na USP algumas vezes e, mesmo com alguns amigos em comum, muito tímidos, nunca havíamos nos falado.  A primeira aproximação aconteceu no projeto Didática da Encenação, com a montagem de Woyzeck do Georg Buchner dirigido pela Cibele Forjaz. Eu era um dos atores e ele o dramaturg. Nos falamos pouco durante o processo. Bem pouco. Um dia ele me ofereceu uma cópia do Lenz do Buchner para eu ler e acho que foi essa a nossa primeira conversa. 

 

Eu poderia descrever todo o nosso percurso profissional a partir desse primeiro papo mas  talvez isso não seja tão interessante quanto o que, juntos,  temos construído artisticamente nestes 14 anos que estou no Teatro da Vertigem. 

 

O espírito inquieto, a sensibilidade, a dedicação, a inteligência aguçada, a criatividade, a delicada obsessão  com que exerce o seu ofício e o amor  pelo  teatro são alguns pontos que, até hoje, admiro muito. Com o passar do tempo vamos descobrindo muitos pontos em comum e, claro, muitas diferenças que alimentam nossos desejos artísticos e transforma o que temos pra realizar ou desejamos realizar.  Isto não aconteceria se não houvesse admiração, confiança e cumplicidade.

 

Percebo hoje que, embora tenha passado muitos anos, aquele rapaz que se aproximou timidamente com o livro debaixo do braço para me  auxiliar na minha criação, continua, agora menos tímido e mais generoso, me ajudando a descobrir os caminhos da criação. E eu, também menos tímido, ao receber, espero conseguir ser generoso pra retribuir tantas anos de parceria.

 

– Isso é pra você! (entregando um livro)

– Pra mim?!

– Sim.

– Obrigado!

– Acho que vai te ajudar.

– Ajudar? Que bom!

– Pro seu personagem (risos)

– Ah, já foi definido?

– Não, mas você pode precisar de qualquer jeito

– Ok então, obrigado!

– De nada. 

– Espera, aproveitando o momento (mexendo na mochila)

– Qual?

– Esse!

– Ah claro!

 -Isso é pra você! (entregando um livro)

– Pra mim?

– Sim, acho que vai nos ajudar!

– Ajudar! Que bom!

– Pro nosso próximo trabalho

– Ah, (rindo) isso já foi definido?

– Não, (rindo) mas vamos precisar de qualquer jeito

– Ok então, obrigado.

– De nada.

 

 

Veja o verbete de Antônio Araújo e Roberto Audio na Teatropédia.

 

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