– Isto deveria ser simples… pensei antes de começar a escrever. – Que bobagem, não é pra ser tão sério assim!… continuei pensando. – E depois, ser simples é muito difícil! Pausa. Longa pausa seguida de lembranças… então que seja como vier, como o coração mandar.
Éramos muito jovens quando nos conhecemos melhor. Já havia visto o Tó na USP algumas vezes e, mesmo com alguns amigos em comum, muito tímidos, nunca havíamos nos falado. A primeira aproximação aconteceu no projeto Didática da Encenação, com a montagem de Woyzeck do Georg Buchner dirigido pela Cibele Forjaz. Eu era um dos atores e ele o dramaturg. Nos falamos pouco durante o processo. Bem pouco. Um dia ele me ofereceu uma cópia do Lenz do Buchner para eu ler e acho que foi essa a nossa primeira conversa.
Eu poderia descrever todo o nosso percurso profissional a partir desse primeiro papo mas talvez isso não seja tão interessante quanto o que, juntos, temos construído artisticamente nestes 14 anos que estou no Teatro da Vertigem.
O espírito inquieto, a sensibilidade, a dedicação, a inteligência aguçada, a criatividade, a delicada obsessão com que exerce o seu ofício e o amor pelo teatro são alguns pontos que, até hoje, admiro muito. Com o passar do tempo vamos descobrindo muitos pontos em comum e, claro, muitas diferenças que alimentam nossos desejos artísticos e transforma o que temos pra realizar ou desejamos realizar. Isto não aconteceria se não houvesse admiração, confiança e cumplicidade.
Percebo hoje que, embora tenha passado muitos anos, aquele rapaz que se aproximou timidamente com o livro debaixo do braço para me auxiliar na minha criação, continua, agora menos tímido e mais generoso, me ajudando a descobrir os caminhos da criação. E eu, também menos tímido, ao receber, espero conseguir ser generoso pra retribuir tantas anos de parceria.
– Isso é pra você! (entregando um livro)
– Pra mim?!
– Sim.
– Obrigado!
– Acho que vai te ajudar.
– Ajudar? Que bom!
– Pro seu personagem (risos)
– Ah, já foi definido?
– Não, mas você pode precisar de qualquer jeito
– Ok então, obrigado!
– De nada.
– Espera, aproveitando o momento (mexendo na mochila)
– Qual?
– Esse!
– Ah claro!
-Isso é pra você! (entregando um livro)
– Pra mim?
– Sim, acho que vai nos ajudar!
– Ajudar! Que bom!
– Pro nosso próximo trabalho
– Ah, (rindo) isso já foi definido?
– Não, (rindo) mas vamos precisar de qualquer jeito
– Ok então, obrigado.
– De nada.
Veja o verbete de Antônio Araújo e Roberto Audio na Teatropédia.
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