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A Naturalidade do Corpo

Publicado em: 09/05/2011 |

Vento vindo de todas as direções, pessoas agachadas, movimentos sincronizados e silêncio. Logo, panos brancos encharcados são esfregados no chão quase como uma dança e um aroma de vinagre toma conta do ambiente. É com esse exercício que os aprendizes de Atuação da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco iniciam suas aulas, todas as quartas-feiras de manhã, com o dançarino, performer e ator Toshi Tanaka.

 

Durante essa coreografia, os aprendizes fazem a higienização do piso da sua sala de trabalho e, na sequência, abrem leques japoneses emprestados pelo mestre, para, em movimentos de bailarinos, fazer a agitação do ar e energizar o espaço.  “Os brasileiros estão acostumados a ter suas casas limpas por funcionários. Acredito que eles precisam cuidar do seu ambiente e criar intimidade com o espaço, por essa razão que peço para eles limparem o chão. Essa atividade também oferece um tempo para que eles se concentrem, afinal ela é feita em silêncio”, explica Tanaka.

 

Durante as aulas, o dançarino ensina técnicas provenientes do Seitai-Ho, uma educação corporal japonesa ligada à medicina natural. “Falamos de pontos de vista, respeitar a força, a energia, a naturalidade e a arte do corpo”, revela o artista-convidado.

 

Tanaka explica que o Seitai-Ho trabalha em diferentes campos, entre eles, utiliza a técnica do Do-Ho que pesquisa os movimentos da cena oriental japonesa como a dança Butoh e o teatro Nô para, então, criar a linguagem do corpo baseada em três elementos: a sensibilidade, o movimento e a percepção. “Trabalhamos a conscientização corporal, nosso elemento de prática é o ar, a respiração. O que buscamos é um olhar para si e para o mundo. Precisamos sempre estar ligados aos movimentos da natureza”, finaliza.

 

As propostas pedagógicas e artísticas do Módulo Azul têm como material de investigação o movimento Bauhaus e a obra do diretor e dramaturgo Antonin Artaud. Segundo Francisco Medeiros, coordenador do curso de Atuação, essa temática é inspiradora para todos e ela gira entorno do encontro. 

 

Assim, estabelecer um encontro entre a cena teatral oriental e a brasileira, usando a obra de Antonin Artaud como inspiração, é a motivação de Medeiros. “Sou discípulo de Tanaka, ele é um grande mestre da interpretação. Um professor sábio que estabelece uma analogia entre técnicas cênicas e educação da sensibilidade. Para mim, é algo como uma filosofia de vida”, conclui.