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A Dramaturgia Sonora Lê Artaud

Publicado em: 14/04/2011 |

Para atribuir uma perspectiva histórica que permitisse a compreensão do raciocínio Artaudiano para além da superfície do texto, os aprendizes do curso de Sonoplastia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco utilizam o texto  “Van Gogh: O Suicidado da Sociedade” como ponto de partida para a discussão e o aprendizado acerca do teatro performativo.

 

Para Martin Eikmeier, formador do curso, a ideia de haver uma militância contra a razão, bastante discutida quando se pensa no esquema geral de Artaud, deu lugar à sugestão de que se trataria de uma militância contra a fé no progresso científico. “O positivismo, filosofia hegemônica na França do final do século XIX, seria seu principal alvo. A partir desta definição, levantamos em seu texto, uma série de temas que poderiam estar a serviço desta empreitada”, explica.

 

“Artaud usa um esquema bastante frequente na literatura ocidental: a trajetória de sacrifício da personagem, sua sacralização e transformação em mito da salvação”, explica o formador. “Este messianismo atribuído ao personagem de Van Gogh tem ecos na sua própria figura como poeta. Diante destas questões, a turma de Sonoplastia discute quais sonoridades ou musicalidades seriam capazes de veiculá-las no contexto da performance”, revela. 

 

Assim, em consonância com o pensamento de Artaud, os artistas da performance tendem a dar preferência a formas abertas de discurso, sem a direcionalidade típica das grandes narrativas e, segundo Eikmeier, esta direcionalidade se encontra também na música tonal, especialmente na tradição sinfônica. “A hegemonia de uma música dotada de finalidade é uma questão fundamental para aquilo que passaria a ser produzido na música ocidental do século XX”, comenta.

 

“Tal como podemos encontrar na sonoridade dos rituais primitivos, não se trata de solicitar o raciocínio do ouvinte. Já não discriminamos, como na forma sonata, na canção ou mesmo em um balé de Stravinsky, um discurso musical. Não há organização temática, repetição de temas que em determinados contextos podem acumular conteúdos externos à música, esquema fundamental na ópera, no cinema e no teatro narrativo. Não é, portanto, uma música que descreve ou narra conteúdos da cena, mas sim uma música que produz um estado no ouvinte, hipnotiza, subtrai-lhe a atitude cotidiana e distraída”, conclui.