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O Fazer Teatral: Pessoal e Intransferível

Publicado em: 26/04/2013 |

Nesta semana, a SP Escola de Teatro deu o pontapé inicial ao colóquio “O Que é Pedagogia do Teatro?”, um megaevento, no sentido qualitativo de se pensar o modo como, atualmente, as artes do palco são transmitidas às novas gerações.

Note que o título do encontro é escrito com uma interrogação. Assim, já na primeira do total das 13 mesas que irão compor o colóquio mensalmente, até outubro, ficou claro que a intenção aqui não é responder à questão, mas levantar outras tantas.

Na mesa de abertura, que ganhou o nome de “Olhares Sobre a Pedagogia do Teatro”, nos reunimos eu, a Prof.ª Dr.ª Ingrid Dormien Koudela, livre-docente da ECA/USP, e a Prof.ª Dr.ª Maria Thais, pesquisadora e diretora teatral, além de mestre e doutora em Artes pela ECA/USP. Cada um defendeu seu “território”. Aliás, apresentou mais do que defendeu. Ingrid falou da escola alemã, de Bertolt Brecht; a Maria Thais, da escola russa, de Stanislavski e eu, como diretor executivo da SP Escola de Teatro e doutorando em Pedagogia do Teatro pela ECA/USP, discorri, claro, sobre o método pedagógico adotado aqui pela Escola.

O que mais me chamou a atenção durante o encontro foi o fato de todos falarmos a mesma língua, embora representando escolas tão distintas. Em comum, a concordância de que o saber teatral é essencialmente técnico, experimental. Não no sentido amador da palavra (ou também sim, por que não?), mas na constatação de que não há como aprender teatro sem senti-lo na pele, ou “na carne”, como bem colocou Maria Thais.

E mesmo antes de lançarmos a pedra fundamental da SP Escola de Teatro, meio que instintivamente, artesanalmente, já sabíamos disso. Era preciso instigar nossos aprendizes a descobrir as artes do palco. Como? Por meio dos experimentos (como os que serão apresentados no Território Cultural do Módulo Azul de amanhã, 27 de abril). O aprendizado da experiência é único. O processo percorrido pelos núcleos é como uma roupa feita sob medida. É deles, ali, naquele instante. E para sempre.

Não que o experimento seja desprovido de fundamento teórico. Nada disso. Aqui na Escola, optamos por estruturar o ensino em quatro módulos independentes e autônomos, dois a cada semestre, divididos nas cores Verde, Azul, Vermelho e Amarelo, que trabalham eixos temáticos distintos, como Narratividade, Performatividade, Personagem e Conflito, Escrita etc. Ainda dentro de cada um destes módulos, três fases compreendem o aprendizado: Processo, Experimento e Formação.

Ou seja, há um método, tendo por trás uma teoria a ser ensinada, mas como isso se dará ficará a cargo do trabalho desenvolvido pelos aprendizes, sob a tutela do formador e do coordenador de cada um dos oito Cursos Regulares da Escola. Acredito que o aprendizado da experiência é o caminho. Ele respeita a individualidade de cada um, seu tempo, sua aptidão, sua disposição. Na educação, o que menos importa é o aprendizado da sequência.

É preciso aprender trabalhando, suando. Trago isso na minha própria trajetória, na trilha seguida pela companhia Os Satyros, que fundei ao lado do Rodolfo García Vázquez. E fico feliz em constatar que esse método que privilegia o conhecimento artesanal, feito no dia a dia, está presente no DNA da SP Escola de Teatro. Há que se curvar, em reverência, diante das grandes escolas de teatro, sim, como a de Brecht, Stanislavski, Meyerhold. Pode se beber de sua fonte, mas o caminho de cada um no fazer teatral é, como está impresso no convite que recebemos para aquela cobiçada festa: “Pessoal e Intransferível”.

 

* por Ivam Cabral, especial para o portal da SP Escola de Teatro.