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Novíssima dramaturgia contemporânea brasileira

Publicado em: 13/03/2015 |

Provocado para falar sobre a dramaturgia brasileira hoje, penso em ir além e discorrer um pouco sobre a novíssima geração dos que produzem para a cena dramática do nosso País. Se, a partir do final dos anos 1980, vimos debutar no nosso teatro projetos poderosos como os de Leo Lama e Paula Chagas, dentre tantos, é no início deste novo milênio que, seguramente, encontramos um movimento consolidado.

Parece-me justo e razoável afirmar que a dramaturgia brasileira está mais viva que nunca. Temos aqui uma produção potente e que tem mostrado que pode representar positivamente a arte do nosso País.

Não acho que seja exagero algum dizer que nunca tantos dramaturgos talentosos e obstinados emergiram para a cena nacional, levando aos palcos questões indispensáveis para uma reflexão mais aprofundada e crítica da sociedade atual. Os motivos que levaram a este crescimento são numerosos e complexos, e é certo que a investigação desses fatores oferecerá um panorama interessante de nossa realidade cultural, mas o foco do presente artigo não passa exatamente por este tema.

Jovens autores despontam em belos trabalhos que ganham as salas dos teatros alternativos e também dos comerciais. É extremamente válida a menção a nomes como Alessandro Toller, Marcio Aquiles, Alexandre Dal Farra, Cassio Pires, Leonardo Moreira, dentre outros artistas de uma promissora geração.

Um fator importante a ser considerado é a convivência sadia que se dá entre os dramaturgos que estão iniciando sua trajetória e artistas já reconhecidos e cultuados. É do cruzamento das informações entre gerações que se faz uma arte revolucionária, original em suas proposições, e nunca do completo desprezo ao passado e à tradição.

Aliar tradição e contemporaneidade é um dos pressupostos básicos da coordenação de Dramaturgia da SP Escola de Teatro, em São Paulo, que é o único curso regular da área em todo o Brasil, dedicado a equilibrar teoria, técnica e prática. Marici Salomão, jornalista e dramaturga que cresceu artisticamente com Luís Alberto de Abreu e Antunes Filho, é a coordenadora do curso.

Marici é o exemplo de uma artista generosa e que se mantém atenta para o que vem sendo feito de novo na área dramatúrgica. Busca referências em nossa própria história, sem, no entanto, fechar as portas para absorver as tendências externas.

Nos últimos anos, passaram por suas aulas vários aprendizes-artistas que vem se destacando no cenário artístico paulista, como Camila Damasceno, Dione Carlos, Heloisa Cardoso, Marco Keppler, Lucas Venturin, Mariana Menezes e Maria Shu, reforçando a grande missão da Escola: contribuir para a preparação de artistas para a atuação profissional nos mais altos níveis.

Por essas e outras razões, hoje, definitivamente, é impossível fechar os olhos para a produção dramatúrgica no Brasil e reproduzir aquele desgastado e irresponsável discurso de que não existem bons textos brasileiros. Pois há, e muitos, de gênios das letras do século 19 até jovens do século 21 bem preparados para exercer tal função.

 

* por Ivam Cabral, especial para o portal da SP Escola de Teatro.