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Não matem o teatro antes do tempo

Publicado em: 02/10/2017 |

Há cerca de um mês, o caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, publicou uma matéria intitulada “Público diminui nos teatros de São Paulo e sessões encolhem”. Foram ouvidos produtores independentes e dirigentes de associações de produtores teatrais. Na reportagem, números bastante assustadores. Desde ingressos que custam R$ 150,00 a informações de que, por falta de público, as temporadas das peças estariam se limitando a sessões de sexta a domingo.

Na verdade, não é o que tem acontecido com Os Satyros. Com ingressos a R$ 20,00, nossa programação se distribui nos sete dias da semana, de domingo a segunda e, na maioria das vezes, com lotações esgotadas. Nos fins-de-semana, inclusive, as filas que se formam na bilheteria do espaço são enormes e um grande número de espectadores voltam para as suas casas sem conseguir seus bilhetes.

Então, qual seria o problema dessas informações, tão desconexas quanto contraditórias? Se vocês leram com atenção, perceberam que temos uma variação enorme entre o preço praticado pelos ingressos dos trabalhos elencados pela reportagem da Folha (R$ 150) e os praticados pelos Satyros (R$ 20).

Precisamos entender que o teatro é o lugar, primeiro, da diversidade, das ideias, dos debates, dos encontros; portanto, plural demais. Ainda: há espaços e espaços, propostas e propostas. Há muitos teatros dentro do teatro; com cores, tamanhos e espessuras distintas. Não podemos comparar a artesania do Satyros, por exemplo, à exuberância do Teatro Renault.

Entre os dois exemplos, uma questão de distribuição de públicos, tão somente. E existem públicos para todos os nichos. O problema, problema mesmo, são as classificações destas plateias. E de como as editorias dos cadernos de cultura as enxergam.

Só para se ter uma pequena ideia do que acontece, “Pessoas Perfeitas”, nosso mais recente trabalho, estreou no fim-de-semana passado sem nenhum grande destaque nos jornais. Nem por isso deixou de ter um público surpreendente, interessado e curioso, que abarrotou nosso pequeno espaço na Praça Roosevelt, em sessões de quinta a domingo.

As editorias dos jornais, por falta de paradigmas, quem sabe, talvez estejam perdendo o bonde da história. Com a internet, somos donos de nossas próprias histórias e trajetos. Somos nós, produtores que dialogam com seu tempo, que damos as cartas. Em contraponto, quando a grande midia quer falar “seriamente” sobre nós, produz matérias esquisitas dizendo que o teatro está morrendo e etc.

Não, não nos matem antes do tempo. Porque ainda temos muito o que fazer por nossa gente e cultura.

Em tempo:
1 – Fui contar o nosso público desta semana que passou: 750 espectadores, em 17 sessões distintas. Não é, assim, um número desprezível, pois não?

2 – Talvez, precisemos falar de formas de incentivo e de políticas públicas. Daí, esse texto seria outro. Eu começaria a reclamar da hegemonia dos departamentos de marketing das grandes empresas em relação à Lei Rouanet (que saudade das discussões iniciadas pelo Juca Ferreira, quando Ministro da Cultura, que propunha um novo olhar a respeito da distribuição dos incentivos federais). Mas, também, louvaria o Programa de Fomento ao Teatro, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que faz com que nossos bilhetes, no Satyros, custem R$ 20; ou os programas de incentivo ao teatro da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo, que nos propõem o PROAC-ICMS; só para citar dois exemplos.