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Cursos regulares

A cada semestre, um tema diferente – e sempre em consonância com a realidade que nos cerca – é escolhido para ser desenvolvido pelos aprendizes da SP Escola de Teatro. O tópico conduz não só os trabalhos dos estudantes, mas as discussões, encontros e apresentações que acontecem na Instituição.

Assim, durante o período em questão, os aprendizes dos oito cursos regulares reúnem-se em pequenos grupos e apresentam seus experimentos, criações cênicas que vão amadurecendo graças ao feedback e ao trabalho de desenvolvimento que é feito em sala de aula.

Os experimentos são norteados por um operador – o modo pelo qual as técnicas e conteúdos são trabalhados –, pelos materiais de trabalho – que funcionam como um ponto de partida –, e pelos artistas-pedagogos, encarregados de trazer referências para os aprendizes.

Quando o módulo azul trabalhou performatividade sob o tema “distopia” no primeiro semestre de 2017, o operador escolhido foi o escritor e editor Alex Gendler, cujas especialidades vão desde a história e teoria política à cultura da internet. O material do período foram dramaturgias cênicas com base na série fotográfica “Distopia”, do artista-pedagogo Petri Damsten.

Também no primeiro semestre, o material escolhido para o módulo verde foi o texto dramatúrgico com base na série “Black Mirror”, criada pelo britânico Charlie Brooker e tida também como artista-pedagogo do período. O eixo do módulo trabalhou em cima de questões pertinentes a personagem/conflito, também sob o operador Alex Gendler.

Para Joaquim Gama, coordenador pedagógico da SP Escola de Teatro, a série que serviu de inspiração para o tema do semestre mostra que a distopia parece ser o condutor da sociedade em diversos planos, daí a importância em discuti-la hoje. “A arte é o campo de resistência para lidar com situações como essa, que às vezes parecem sem saída”, diz.

Já no segundo semestre, em que o operador tanto no módulo amarelo (cujo eixo foi narratividade) quanto no vermelho (em que o eixo era definido por cada grupo de aprendizes) foi o geógrafo brasileiro Milton Santos e o tema escolhido foi “Eu, refugiada. Eu, refugiado.” No módulo amarelo, os artistas pedagogos foram a Companhia de Teatro Heliópolis, o Coletivo Estopô Balaio, o Grupo Clariô de Teatro e a Trupe Sinhá Zózima.

Para acrescentar às discussões, em agosto a SP Escola de Teatro organizou o Fórum Migrantes e Refugiados, que contou com a presença de palestrantes como Marcelo Haydu, diretor do Instituto de Reintegração do Refugiado (Adus) e Maria Cristina Morelli, coordenadora do Caritás, entidade que atua na defesa dos direitos humanos e é centro de referência para refugiados no Brasil. A questão de pertencimento também foi alimentada por Maria Adélia de Souza, discípula do geógrafo Milton Santos.

“Apesar de políticas que defendem a globalização, o próprio Milton Santos já defendia a ideia de territórios solidários no processo de globalização por entender que disputas por território ainda são motivo para guerras”, explica Gama sobre a importância do tema. Segundo o coordenador, a discussão ainda abriu espaço para outras reflexões, ligadas a tópicos como racismo, sexismo, segregação social e a falta de políticas sociais. “Tudo isso também se relaciona com o retorno da SP Escola de Teatro ao Brás, um território que é como um microcosmo do Brasil, porque ali conseguimos encontrar várias perspectivas diferentes.”

Linhas de estudo