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Adeus ao mestre Antunes Filho

Publicado em: 03/05/2019 |

O encenador Antunes Filho durante evento Encontro Notáveis, da SP Escola de Teatro, em 2010. Foto: Acervo

O encenador Antunes Filho, 89 anos, morreu na noite da última quinta-feira (2), em São Paulo, deixando um enorme legado para as Artes Cênicas do Brasil. Um dos maiores nomes do teatro nacional – com reconhecimento internacional – Antunes formou gerações de artistas que hoje atuam nas variadas áreas teatrais e que levam adiante os ensinamentos do mestre fundador do CPT (Centro de Pesquisa Teatral).

Na SP Escola de Teatro, três coordenadores de cursos foram parceiros artísticos de Antunes Filho, atuando junto com o encenador. A dramaturga Marici Salomão, coordenadora de Dramaturgia na Escola, esteve durante 5 anos na equipe do CPT, coordenando o Círculo de Dramaturgia do Centro. “Antunes foi uma das pessoas mais intensas com quem convivi e aprendi. Com ele me transformei: rigor e a busca incessante pelo conhecimento”, lembra ela.

No caso do sonoplasta Raul Teixeira, coordenador de Sonoplastia da Escola, a relação de trabalho ainda possibilitou uma grande amizade com Antunes. Eles conviveram nos últimos 32 anos. “Aprendi a amar o teatro e a descobrir a minha profissão de sonoplasta com meu mestre”, diz Teixeira. “Foram muitas histórias, aprendizados, ensinamentos de voz, corpo e respiração. Sempre complementados com filmes, exposições, idas ao teatro e muitas leituras. Um jeito singular de ensinar e que mudou a forma de interpretação no teatro brasileiro. Um verdadeiro diretor-pedagogo.”

Segundo Raul Teixeira, Antunes resistiu bravamente até seu último suspiro — o diretor morreu em decorrência de um câncer no pulmão, diagnosticado há poucos meses. “Agradeço cada um desses anos em que convivi com um mestre severo e generoso, exigente e rigoroso, apaixonado e obsessivo por tudo que fazia. Obrigado amigo, mestre, painho, companheiro de tantas jornadas”, finaliza o sonoplasta.

A dedicação de Antunes Filho ao ofício do teatro e sua genialidade também são destacadas pelo cenógrafo J. C. Serroni, coordenador de Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco da SP Escola de Teatro, que conviveu com Antunes ao longo de 40 anos. “Por mais que me esforce, sei que não vou conseguir traduzir a importância do trabalho artístico desse grande mestre. Formador e estimulador de centenas de artistas. Estudioso obcecado pelo teatro. Inquieto. Polêmico. Sem medo de riscos e de um rigor profundo. Esteta da qualidade de uma Pietá! Um poeta digno de Homero! Igualado internacionalmente aos grandes diretores de sua geração: Peter Brook, Ariane Mnouchkine, Tadeusz Kantor, entre outros. Um gestual em seus espetáculos, digno de um Kazuo Ohno, de quem era admirador e amigo. Poderia aqui ficar exaltando muito mais qualidades, mas nada irá se superpor ao grande amigo que foi.”, diz Serroni.

“Convivi mais de 40 anos com seu trabalho e sua vida. Começamos na TV Cultura, no final dos anos 1970. Depois, por mais de 30 anos, no CPT do Sesc. Foram 15 espetáculos, montagem em Nova York; dezenas de Festivais pelo mundo; viagem para a Índia por 40 dias, juntos pesquisando Ramayana; cuidando do deck de sua linda casa em Paraty; enfim, muitos momentos, muitas histórias. Muitas delas também compartilhadas, com Raul Teixeira, seu amigo mais íntimo dos últimos anos, e tantos outros integrantes do grupo Macunaíma e do CPT, que agora lamentam sua perda”, lembra o cenógrafo. “Um vazio enorme. Muita falta fará. Enorme tristeza, mas enorme responsabilidade de manter sempre viva sua obra monumental.”

PRESENÇA

Ao longo deste quase 10 anos de existência da SP Escola de Teatro, Antunes Filho também esteve presente em diversas ocasiões — seja em bate-papos e até em aulas especiais. Segundo diretor executivo da Instituição, Ivam Cabral, Antunes foi um “guru, incentivador e forte aliado em todo o processo de estruturação e gerência da SP Escola de Teatro”. “Estava conosco em cada passo e, em várias ocasiões, atuou como professor convidado”, lembra.

Um dos momentos de Antunes com estudantes da SP Escola de Teatro foi em maio de 2010, durante o fórum Encontro Notáveis, no Teatro Aliança Francesa. Na ocasião, ele chegou a ser perguntado pela plateia sobre “o que é imprescindível na formação do ator”. “Talento”, respondeu o encenador, sem nem pestanejar, complementando que “olhos e ouvidos atentos na poesia, literatura, música, cinema, filosofia e artes plásticas são fundamentais para a carreira teatral”. “Sempre adorei Bergman, além dos filmes de aventura e bang-bang (…) Nada é mais bonito nessa vida que um ator interpretando”, disse.




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