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A Escola / RETROSPECTIVAS



Prêmios


Raul Teixeira, Raul Barretto, Ivam Cabral, Hugo Possolo e Joaquim Gama no palco do 29º Prêmio Shell de São Paulo. Foto: Roberto Ikeda/Miguel Arcanjo Prado

O ano começou com um prêmio muito especial: a SP Escola de Teatro foi vencedora do 29º Prêmio Shell de São Paulo na categoria Inovação. Para os jurados, a instituição, ligada à Secretaria da Cultura do Estado São Paulo, se destaca pela formação de profissionais nas áreas técnica e artística, sob uma política pedagógica contemporânea.

“Essa é uma conquista do bom teatro, da classe teatral; é uma conquista do melhor teatro que se faz, porque é um trabalho coletivo – são centenas de pessoas reunidas ao redor da SP Escola de Teatro”, comemorou, à época, o diretor executivo da instituição, o ator e diretor Ivam Cabral.  

A SP Escola de Teatro concorreu com outros dois espaços importantes para a cena teatral paulistana: o Centro Cultural São Paulo, que fomenta o programa Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos; e o Grupo Parlapatões, cuja sede, na Praça Roosevelt, região central da cidade, é reconhecida por abarcar um repertório de trabalhos de variadas linguagens artísticas.

Ao longo de 2017, vieram outros prêmios de reconhecimento ao trabalho da Escola e de profissionais ligados a ela. Ivam Cabral, por exemplo, foi condecorado com importantes troféus das artes. Em maio, recebeu o Grande Prêmio da Crítica, no Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em uma elegante cerimônia no Theatro Municipal, e em julho, recebeu o Prêmio Especial da quinta edição do Prêmio Aplauso Brasil.   

Projetos especiais


A vocação de formação da SP Escola de Teatro se estende também à ocupação do espaço com atividades de residências artísticas. Em 2017, a Instituição recebeu 17 eventos — entre espetáculos, debates e palestras — e possibilitou o trabalho de 25 residências artísticas.

Entre os destaques de montagens em cartaz na Escola, este ano, estão “Isso não É um Sacrifício”, da atriz Fernanda D’Umbra, a volta de “Cachorro Enterrado Vivo”, do ator Leonardo Fernandes; além de duas apresentações do espetáculo português “Solange”.

A Escola foi base, ainda, de ensaios e processos criativos para espetáculos como “Demônios”, do coletivo Teatro da Pombagira, que estreia em 2018, e “Nos Trilhos Abertos de um Leste Migrante”, do Estopô Balaio.

Cinema

O ano de 2017 marcou a criação Escola Livre de Audiovisual, projeto da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap). A ELA lançou no segundo semestre dois editais em parceria com a Universidade das Artes de Estocolmo (Uniarts), da Suécia.

Um dos certames selecionou dois brasileiros para compor a equipe de um filme feito em coprodução entre os dois países, filmado no primeiro semestre de 2018. O outro edital, de Curso de Realização, abriu espaço para formação de 24 pessoas nas áreas de direção de produção, direção de fotografia, cenografia e figurino, iluminação, som, roteiro e contrarregragem e maquinaria. As aulas começam em janeiro.

Eventos


Na SP Escola de Teatro, ao longo do ano, passaram importantes eventos sociais e culturais. Entre os dias 24 e 27 de janeiro, a instituição recebeu a quinta edição da SP TransVisão – Semana da Visibilidade de Travestis, Mulheres Transexuais e Homens Trans, que aconteceu na sede Roosevelt da instituição e no Museu da Diversidade.

Com o tema “O Emprego Que Queremos”, a edição de 2017 da semana discutiu o direito das pessoas trans a um trabalho digno e a falta de políticas públicas para garanti-lo. O evento celebra “Dia Nacional da Visibilidade Trans”, comemorado em 29 de janeiro.

No segundo semestre, de 2 a 5 de novembro, a Escola foi palco da 18ª edição do festival Satyrianas, organizado pela Cia. Os Satyros, cujo tema foi “Somos Todos Baldios”. A Instituição recebeu espetáculos, leituras dramatizadas e performances, que integraram a programação com mais de 400 atrações. Tudo gratuito.

Brás


Em 2017, a SP Escola de Teatro retomou suas atividades na sede Brás, primeira unidade em que funcionou a instituição, em 2009. Foram dois anos de reforma do prédio histórico, erguido em 1913 e hoje tombado como patrimônio arquitetônico do Estado.

Localizado na Avenida Rangel Pestana, uma das mais importantes da região central da cidade, o edifício reformado oferece aos aprendizes e colaboradores mais espaço para o desenvolvimento de suas atividades. Com um grande pátio, os estudantes dos oito cursos regulares podem ter uma outra experiência de criação, muito mais fluida, facilitando o trabalho do teatro de grupo.

Além das salas de aulas, a sede conta com ateliês de marcenaria, salas de costura e guarda-roupa, onde acontecem as atividades práticas do curso de Cenografia e Figurino, e um anfiteatro com 157 lugares. Na sede Brás também estão os departamentos administrativos e operacionais, o Programa Kairós, a Extensão Cultural, a Biblioteca e o Ateliê.

Mudanças

Na obra, o edifício passou por uma restauração de pisos, esquadrias e pintura, reparos das infiltrações nas paredes e readequação do sistema de combate a incêndio, entre outras intervenções. Além disso, foi instalado um elevador acessível. O Estado investiu 5,4 milhões de reais na obra.

A reinauguração oficial do prédio foi feita pelo governador Geraldo Alckmin, em julho, em cerimônia que contou com participação do secretário da Cultura do Estado, José Luiz Penna, e do diretor executivo da Escola, Ivam Cabral. O evento contou, ainda, com uma performance do bailarino Marcos Abranches.

História

Antes de receber a SP Escola de Teatro, em 2009, o prédio no Brás era ocupado pela E. E. Padre Anchieta, instalada no local em 1913 e que atualmente funciona no mesmo terreno, com entrada pela rua Visconde de Abaeté.

O edifício foi tombado pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico em 2002. O espaço também abrigou a segunda Escola Normal de São Paulo, que tinha o nome de Seção Feminina do Grupo Escolar do Braz e foi criada por um decreto em 8 de agosto de 1898.

Biblioteca e lançamentos


Responsáveis por possibilitar a extensão das atividades das salas de aula para o âmbito da pesquisa e estudo teórico, a Biblioteca e o Arquivo da SP Escola de Teatro são fontes de informação relevante para a Instituição e contribuem para o desenvolvimento das atividades pedagógicas propostas.

Em 2017, o setor promoveu o lançamento de livros como “Thomas Bernhard, o Fazedor de Teatro e a Sua Dramaturgia do Discurso e da Provocação”, do pesquisador Samir Signeu, que ainda participou de uma palestra; “O Teatro Político de Brecht no Processo de Formação Humana”, de Juliana Gobbe; e “Dramaturgias do Front”, de Dione Carlos.

Além de lançamentos, a Biblioteca gerencia as atividades de ações sociais, como o projeto Esqueça Um Livro (que espalhou pelo prédio da Escola 15 livros com um bilhete incentivando nossos aprendizes a levarem a campanha adiante), e faz parcerias com o Programa Kairós.

Outros lançamentos

A Escola também recebeu, em 2017, o lançamentos de livros dos dramaturgos Ivam Cabral (diretor executivo da Instituição) e Rodolfo García Vázquez (coordenador do curso de Direção). Em maio, eles lançaram “Pessoas Brutas’, dramaturgia da montagem homônima e integrante da “Trilogia das Pessoas”, que começou em 2014 e é composta ainda por “Pessoas Perfeitas” e “Pessoas Sublimes”. E em outubro, lançaram “Pink Star”, texto da peça com base na teoria queer e que discute a liberdade sexual e de gênero.

Programa Kairós


O Programa Kairós é o braço social da SP Escola de Teatro, que busca aproximar os aprendizes de sua função de artistas/cidadãos. Entre as principais atividades do programa estão a concessão da bolsa-auxílio, chamada de Bolsa-Oportunidade, e ações de fortalecimento da relação estabelecida entre a Instituição e a sociedade.

Entre janeiro e dezembro de 2017, foram mais de R$ 300 mil destinados aos 122 aprendizes contemplados com a bolsa. O benefício atende a aprendizes em vulnerabilidade socioeconômica e é indispensável para muitos, consistindo em uma ajuda para gastos com transporte, alimentação e compra de materiais, entre outros.

Como contrapartida, os estudantes contemplados devem desenvolver atividades que contribuam com o processo de aprendizado proposto nos cursos regulares. Neste ano, o Kairós realizou 12 atividades de contrapartida.

Elas foram de ações focadas na própria SP Escola de Teatro, como a “SP Dramaturgias”, em que os aprendizes fizeram leituras dramáticas de textos produzidos por colegas e artistas convidados, a ações externas, como as aulas de teatro ministradas por dois aprendizes para as crianças do Ballet Paraisópolis na segunda maior comunidade de São Paulo. A sociedade também teve espaço dentro da Instituição, como quando o projeto SP Livros trouxe as alunas e alunos da Escola Estadual Padre Anchieta, vizinha da sede Brás da Escola, para assistir a experimentos cênicos criados pelos aprendizes dos cursos regulares.

Parcerias

O trabalho do Programa Kairós não se concentra somente nos estudantes dos cursos regulares da Instituição, mas também nos aprendizes egressos, preocupando-se em acompanhar sua trajetória profissional após a formação – em 2017, por exemplo, exerceu papel importante na colocação profissional de aprendizes no Instituto Tomie Otake.

Entre outras ações promovidas pelo programa estão a elaboração de projetos sociais e/ou culturais, os estágios para aprendizes da Escola e os intercâmbios culturais – nacionais e internacionais –, além da captação de recursos e/ou parcerias junto a órgãos públicos, ONGs, organismos internacionais e empresas privadas.

Em 2017, o programa estabeleceu parcerias com as várias unidades do Sesc em São Paulo para disponibilizar aos aprendizes, de graça, ingressos para espetáculos que movimentaram a cena paulistana de teatro, como a remontagem do Teatro Oficina de “O Rei da Vela”, no Sesc Pinheiros.

Projetos Internacionais


Centro de referência em formação nas Artes Cênicas no Brasil, a SP Escola de Teatro mantém-se também entre os nomes das principais instituições de arte do mundo. O modelo de ensino desenvolvido pela Escola, com base na democratização do conhecimento e troca de experiência entre formadores e aprendizes, possibilita o intercâmbio de estudantes e formadores brasileiros e estrangeiros como parte da construção profissional artística.

Em 2017, os aprendizes Jessie Lewis Skoglund e Jacob Danielsson vieram de longe: alunos da Universidade das Artes de Estocolmo (Uniarts), na Suécia, os dois são intercambistas e estão no Brasil para cursar Humor na SP Escola de Teatro. O intercâmbio fez parte do projeto de parceria entre a instituição brasileira e a sueca.

A dupla de intercambistas que estuda Mímica na Suécia chegou a São Paulo em agosto e ficou até outubro. “Nunca estive tão longe de casa,” conta Jessie. “É como nascer de novo. Há muitas diferenças entre nossas culturas, então não temos as mesmas referências, histórias, o mesmo conhecimento sobre teatro.”

Enquanto Jessie e Jacob ficaram no Brasil até o fim de outubro, duas aprendizes da SP Escola de Teatro estiveram na Academia de Artes Dramáticas de Estocolmo. Gabriela Smurro, que cursa Atuação, e Marcela Pupatto, do curso de Humor, definem a experiência fora do País como intensa e transformadora. “O aprendizado lá é voltado para o conhecimento e condicionamento corporal. O caráter técnico do ensino pressupõe um aprendizado individualizado, uma busca pela precisão, repetição e concentração”, contam.

O programa de intercâmbio também incluiu a viagem de formadores brasileiros e suecos. Entre agosto e setembro, os formadores da SP Escola de Teatro Luciano Gentille e Dan Nakagawa ministraram um curso na Uniarts, além de acompanhar algumas aulas de Mímica, Atuação e Performance. Enquanto isso, as professoras Tuija Liikkanen e Lena Stefenson ministraram em São Paulo o curso de extensão “Composição e coreografia da cena”, na sede Roosevelt da Escola. Nas aulas, as artistas apresentaram diferentes métodos de criação de movimentos cênicos, extraídos de processos como dança contemporânea, contraimprovisação e mímica.

A parceria da SP Escola de Teatro com a Universidade das Artes de Estocolmo já trouxe ao Brasil 22 professores suecos e oito estudantes e já levou à Suécia 12 formadores e oito aprendizes. Trata-se de um projeto sofisticado, na ponta da vanguarda da educação contemporânea, com frutos riquíssimos.

Chipre

Os intercâmbios internacionais também proporcionaram a aprendizes participação em montagens teatrais. Entre abril e maio, quatro estudantes da SP Escola de Teatro estiveram em Pafos, no Chipre, para participar de “Lisístrata”, texto de Aristófanes, com direção de Brian Michaels, inglês radicado na Alemanha. A viagem das estudantes Carol Rodrigues, Clara Cury, Thais Rossi e Vitoria Carine fez parte do programa de Intercâmbio da instituição brasileira em parceria com a Universidade das Artes de Folkwang, na Alemanha.

“As principais questões abordadas na peça são a política e o papel social da mulher naquela época, porém nos impressionou a atualidade das discussões presentes no texto”, escreveram as aprendizes da SP Escola de Teatro em artigo sobre a experiência vivida durante o processo da montagem, que envolveu 12 atrizes (quatro do Brasil, quatro do Chipre e quatro da Nigéria).

Portugal

O ano também marcou o lançamento de uma parceria internacional firmada pela SP Escola de Teatro com a Escola Superior Artística do Porto (Esap), em Portugal. Coordenado pelo setor de Projetos Internacionais da SP Escola de Teatro, a parceria inaugurou um novo modelo de intercâmbio – diferente dos processos seletivos para viagens a outros países que são feitos através de chamamentos, com carta de intenção e ficha cadastral. Para concorrer a uma vaga, aprendizes e colaboradores precisam apresentar um projeto de pesquisa que seria desenvolvido durante a estadia em Portugal. A proposta será analisada e, se aprovada, a Escola faz o intermédio da ida do candidato às instituições portuguesas.

Apresentação


O ano de 2017 foi marcado por inúmeros momentos especiais na SP Escola de Teatro. Novos projetos, a formação de novos artistas, a persistência em um trabalho construtor de cidadãos engajados com a arte e a sociedade, a busca pelos sonhos, a volta às origens. Ao longo dos meses, aprendizes, formadores, coordenadores, colaboradores e convidados fizeram do transformador processo de aprendizado uma atividade em coletivo.

Neste ano, vimos parcerias florescerem ricos resultados: seja no intercâmbio internacional com países como Portugal e Suécia; ou até mesmo com intercâmbios nacionais, na ligação estabelecida com a MT Escola de Teatro, no Mato Grosso.  Nos encontramos com grandes nomes do teatro brasileiro como Ailton Graça, Grace Passô e Aderbal Freire-Filho. Também assistimos a espetáculos marcantes, que nos colocaram a observar o mundo e a nossa volta com olhares críticos, humanos e inspiradores.

O ano foi ainda de reencontro: após dois anos em reforma, a sede Brás, primeiro prédio onde funcionou a SP Escola de Teatro, foi reaberta. Imóvel histórico, erguido em 1913, agora é novamente ocupado pelas atividades pedagógicas do centro de formação.

Além disso, em 2017, trouxemos à baila, no palco, a discussão sobre temática contemporâneas como distopia e as particularidades da vida de estrangeiros refugiados no Brasil.  Fomos prestigiados com lançamentos de livros e importantes debates e palestras – incluindo a presença da professora e pesquisadora Maria Adélia, em aula sobre o geógrafo Milton Santos.

Todo o esforço e a dedicação impressos nesse projeto singular em que consiste a formação da SP Escola de Teatro renderam, ainda, o reconhecimento de um dos mais importantes prêmios do Brasil: o Shell. A Instituição foi vencedora do troféu da categoria Inovação, em celebração ao modelo pedagógico que anualmente atende mais de 400 pessoas em oito cursos regulares.

Foi um ano e tanto!

E nesta breve retrospectiva, relembramos com prazer destes momentos.

Extensão Cultural


Os cursos da SP Escola de Teatro não se restringem somente aos aprendizes dos cursos regulares: o departamento de Extensão Cultural é responsável pelos cursos de extensão, destinados a artistas amadores e profissionais e à comunidade em geral interessada em descobrir ou aprofundar seu conhecimento sobre a área teatral e sobre o universo da cultura e da arte.

Em 2017, a Extensão Cultural organizou e realizou cerca de 35 atividades entre cursos, workshops e mesas de discussão, atendendo a mais de 2 mil pessoas. Como maneira de criar e estreitar laços com criadores e pensadores das mais diversas áreas culturais.

Entre os destaques do ano está o curso de dublagem ministrado por Herbert Richers Jr., que foi o campeão de inscrições em 2017. No curso, realizado durante as férias de julho, os participantes puderam desenvolver suas próprias habilidades com a técnica ao estudar e gravar cenas sob a orientação de Richers.

Outros cursos que chamaram a atenção foram o de Teatro Musical, sob a orientação de Cadu Witter, e o curso ministrado por Jorge Ferreira Silva, em que os participantes construíram um elevador cênico.

As atividades da Extensão Cultural não ficaram restritas também somente aos prédios da SP Escola de Teatro. Em 2017, o bloco de carnaval Acadêmicos do Baixo Augusta abriu sua sede na Praça Roosevelt e passou a oferecer seu espaço para cursos da Escola. Entre outubro e novembro, um curso de produção cultural e outro de dinâmica de palco foram realizados por lá.

Para o diretor executivo da SP Escola de Teatro, Ivam Cabral, a parceria da Instituição com o bloco solidifica a importância e a força da Praça Roosevelt como ponto cultural de São Paulo. “Essa chegada ‘oficial’ do samba vem para consolidar um movimento muito forte no entorno da praça, que já contava com o teatro, a literatura e o cinema”, disse.

A Associação Paulista dos Amigos da Arte (Apaa) também foi parceira da Escola em 2017. Três montagens circenses inéditas, frutos de uma residência artística com direção de Hugo Possolo, Bel Coelho e Fernando Neves, estrearam no 10º Festival Paulista de Circo, em Piracicaba, interior do estado.

Quem também se uniu à Escola foi o Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista. Um dos cursos realizados no espaço foi “Dança para Todos os Corpos”, em que o bailarino Marcos Abranches trabalhou com práticas de consciência corporal, exploração do movimento e respiração e concentração. Abranches é coreógrafo e dançarino portador de coreoatetose, deficiência física rara decorrente de uma lesão cerebral, por esse motivo, o curso foi criado com o objetivo de ser acessível a todos que se interessam por dança e performance.

Para 2018, a Extensão Cultural já prepara mais atividades, e os espaços parceiros vão continuar a fortalecer suas relações com a SP Escola de Teatro e com a arte.

Cursos regulares


A cada semestre, um tema diferente – e sempre em consonância com a realidade que nos cerca – é escolhido para ser desenvolvido pelos aprendizes da SP Escola de Teatro. O tópico conduz não só os trabalhos dos estudantes, mas as discussões, encontros e apresentações que acontecem na Instituição.

Assim, durante o período em questão, os aprendizes dos oito cursos regulares reúnem-se em pequenos grupos e apresentam seus experimentos, criações cênicas que vão amadurecendo graças ao feedback e ao trabalho de desenvolvimento que é feito em sala de aula.

Os experimentos são norteados por um operador – o modo pelo qual as técnicas e conteúdos são trabalhados –, pelos materiais de trabalho – que funcionam como um ponto de partida –, e pelos artistas-pedagogos, encarregados de trazer referências para os aprendizes.

Quando o módulo azul trabalhou performatividade sob o tema “distopia” no primeiro semestre de 2017, o operador escolhido foi o escritor e editor Alex Gendler, cujas especialidades vão desde a história e teoria política à cultura da internet. O material do período foram dramaturgias cênicas com base na série fotográfica “Distopia”, do artista-pedagogo Petri Damsten.

Também no primeiro semestre, o material escolhido para o módulo verde foi o texto dramatúrgico com base na série “Black Mirror”, criada pelo britânico Charlie Brooker e tida também como artista-pedagogo do período. O eixo do módulo trabalhou em cima de questões pertinentes a personagem/conflito, também sob o operador Alex Gendler.

Para Joaquim Gama, coordenador pedagógico da SP Escola de Teatro, a série que serviu de inspiração para o tema do semestre mostra que a distopia parece ser o condutor da sociedade em diversos planos, daí a importância em discuti-la hoje. “A arte é o campo de resistência para lidar com situações como essa, que às vezes parecem sem saída”, diz.

Já no segundo semestre, em que o operador tanto no módulo amarelo (cujo eixo foi narratividade) quanto no vermelho (em que o eixo era definido por cada grupo de aprendizes) foi o geógrafo brasileiro Milton Santos e o tema escolhido foi “Eu, refugiada. Eu, refugiado.” No módulo amarelo, os artistas pedagogos foram a Companhia de Teatro Heliópolis, o Coletivo Estopô Balaio, o Grupo Clariô de Teatro e a Trupe Sinhá Zózima.

Para acrescentar às discussões, em agosto a SP Escola de Teatro organizou o Fórum Migrantes e Refugiados, que contou com a presença de palestrantes como Marcelo Haydu, diretor do Instituto de Reintegração do Refugiado (Adus) e Maria Cristina Morelli, coordenadora do Caritás, entidade que atua na defesa dos direitos humanos e é centro de referência para refugiados no Brasil. A questão de pertencimento também foi alimentada por Maria Adélia de Souza, discípula do geógrafo Milton Santos.

“Apesar de políticas que defendem a globalização, o próprio Milton Santos já defendia a ideia de territórios solidários no processo de globalização por entender que disputas por território ainda são motivo para guerras”, explica Gama sobre a importância do tema. Segundo o coordenador, a discussão ainda abriu espaço para outras reflexões, ligadas a tópicos como racismo, sexismo, segregação social e a falta de políticas sociais. “Tudo isso também se relaciona com o retorno da SP Escola de Teatro ao Brás, um território que é como um microcosmo do Brasil, porque ali conseguimos encontrar várias perspectivas diferentes.”